Muitas pessoas têm dúvidas com relação à reabilitação oral com implantes em pacientes pós radioterapia na região de cabeça e pescoço.
Por isto resolvi escrever este texto informativo para esclarecer algumas dúvidas.
Na radioterapia, a dose de radiação é um dos aspectos que tem grande influência na osseointegração de implantes. A utilização de altas doses de radiação origina maiores danos, devido ao fato da radiação não distinguir as células benígnas das celulas tumorais e causar destruição de tecido saudável.
No osso, ocorre um desequilíbrio das atividades osteoblástica (formação óssea) e osteoclástica (remodelação óssea), havendo um aumento do processo destrutivo e diminuição do número de células ósseas (osteócitos) após a radiação. Os osteoblastos são mais radiosensíveis que os osteoclastos, por isto, muitas vezes o processo da formação da matriz óssea fica estagnado, não ocorrendo mineralização, aumentando assim as chances de fraturas ósseas e osteorradionecrose.
Os vasos sanguíneos sofrem fibrose vascular, resultando numa diminuição da vascularização, comprometendo a vitalidade do osso, aumentando risco de infecção e diminuindo a capacidade de regeneração óssea.
Geralmente a dose normal de radiação ionizante varia entre 50 a 70 Gy, fracionada em doses diárias de aproximadamente 2 Gy, o que permite distribuir, em um período de 4 a 7 semanas, a dose total recomendada.
Segundo alguns autores, doses de radiação maiores do que 55 Gy resultam em uma redução significativa da taxa de sobrevivência de implantes colocados após o tratamento. Esta perda dos implantes ocorre principalmente devido à infecção ou perda óssea assintomática na área peri-implantar, resultando na perda da integração.
Não existe um intervalo específico entre a última radiação e a colocação do implante, para garantir menor risco de osteonecrose, no entanto, muitos trabalhos mostram uma média de 24 meses de intervalo.
O local anatômico da colocação dos implantes também influencia na osseointegração. Apesar da mandibula ser uma área mais susceptível à necrose, esta região se mostra com maior taxa de sucesso na osseintegração de implantes, devido à sua maior densidade óssea e maior volume, o que fornece maior estabilidade ao implante. As diferentes taxas de sucesso indicam que a maxila é mais afetada negativamente pela radiação.
Atualmente existe um tratamento disponível para pacientes irradiados com objetivo de melhorar a recuperação dos tecidos, que é a terapia adjuvante com oxigênio hiperbárico (OHB). Esta terapia resulta em um aumento de tensão de oxigênio no osso isquêmico irradiado e promove a angiogênese (formação de vasos) bem como formação óssea, melhorando a capacidade regenerativa e o processo de osteointegração. O oxigênio hiperbárico deve ser usado de forma preventiva, sempre previamente à cirurgia de colocação do implante. O protocolo da terapia OHB após a radioterapia inclui 20 a 30 sessões antes da cirurgia do implante, e 10 minutos depois da cirurgia, com oxigênio 100%.
Finalmente, a evolução das técnicas cirúrgicas de implantes nos últimos anos têm contribuído para o aumento da taxa de sucesso nos pacientes que passaram por radioterapia, sempre levando em consideração fatores como: dose de radiação, intervalo de tempo pós radiação e, eventualmente, a terapia com OHB.
Fonte: Nooh, N. (2013). Dental Implant Survival in Irradiated Oral Cancer Patients: A Systematic Review of the Literature. The International Journal of Oral & Maxillofacial Implants, 28(5), 1233–1242. doi:10.11607/jomi.3045